O mundo de Tolkien nos games; veja os jogos inspirados em suas obras

  Desde os anos 80, centenas de jogos de videogame e computador foram inspirados pelos grandes trabalhos de J.R.R. Tolkien, pai do que hoje entendemos como fantasia medieval. Apesar disso, o número de adaptações diretas de suas obras é relativamente pequeno, mesmo se levarmos em conta o sucesso da trilogia quando levada para os cinemas. Veja os principais games baseados nas obras do grande escritor de livros como O Hobbit e O Senhor dos Anéis.

O Senhor dos Anéis (Foto: Divulgação)

O Senhor dos Anéis 
O come̤o (1982 Р1989)
A primeira vez que as obras de Tolkien foram adaptadas para os games foi na forma de uma aventura em texto para computadores. Tanto o Hobbit quanto O Senhor dos Anéis ganharam versões pelas mãos da Melbourne House, e eram considerados relativamente avançados para a sua época. A maioria dos jogos deste tipo aceitavam somente comandos baseados em duas palavras (normalmente nomes e verbos) e os games de Tolkien traziam a novidade de aceitar sentenças completas.
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O Hobbit para Commodore 64 

O Hobbit, lançado em 1982 para o Commodore 64, foi efetivamente o primeiro jogo sobre a saga, que incluía o livro completo e um robusto manual de instruções. No final do primeiro ano, o jogo vendeu cerca de 100.000 cópias, chegando mesmo a ultrapassar a cifra de um milhão depois de alguns relançamentos. Seguindo o sucesso, a Melbourne lançaria em seguida The Fellowship of the Ring, The Shadows of Mordor” e completaria a trilogia em 1990 com The Crack of Doom. Todos seguindo a mesma linha de textos interativos com ilustrações, muito semelhantes aos famosos livros jogo publicados por Steve Jackson nesse período.
Outros jogos também foram lançados na década de 80. A própria Melbourne decidiu usar a sua licença para criar uma coisa diferente e daí nasceu “War in the Middle-earth”, um jogo de estratégia em tempo real para Amiga, Commodore 64 e outros computadores da época. Nele você controlava os exércitos da Terra Média em batalhas épicas que poderiam envolver centenas de personagens.
Com beloss gráficos e cores para o período, o jogo se desenrolava entre os enfrentamentos. Nas batalhas menores, a ação aparecia na forma de um side scroller e era possível vislumbrar os personagens clássicos de Tolkien em meio a briga. Já as grandes batalhas campais somente apareciam na forma de números e por essa razão eram menos empolgantes.

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War in The Middle-earth 

Fechando os anos 80, temos o jogo Shadowfax. Criado pela Postern 1983 para Spectrum, C64 e VIC-20, o título colocava o jogador na pele de Gandalf e seu fiél corcel enfrentando hordas infinitas de Nazgûl em um side-scroller típico da era do Atari. Uma continuação chamada “Journey to Rivendell” foi anunciada, mas nunca chegou a ser produzida.

Os anos escassos (1990 – 2001)

Em 1990, a Interplay fez uma parceria com a Eletronic Arts para lançar uma série de jogos baseados nas obras de Tolkien. O primeiro deles foi Lord of the Rings Vol. I para PC e Amiga. Nele você joga com Frodo em um grande RPG repleto de side quests onde você deve recrutar toda a comitiva do anel e recuperar todos os pedaços de Narsil. O CD ainda vinha recheado de animações retiradas do longa animado baseado na saga e muito material para fãs.
O jogo foi sucesso de críticas, mas não vendeu muitas unidades. Em 1991, a Interplay deu continuidade à série lançando Lord of the Rings Vol. II: The Two Towers, mas nunca conseguiu concluir a saga. Em 1994, o jogo original foi adaptado para o Super Nintendo, em uma versão marcadamente inferior e que não obteve o mesmo sucesso dos críticos.

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Riders of Rohan 

Na década de 90, a Konami também lançou um jogo de ação e estratégia chamado Riders of Rohan, ligeiramente baseado em War in the Middle-earth o jogo de estratégia se passava inteiramente no reino de Rohan. O jogador controlava os Rohirrim e as forças do bem contra o temível exército de Saruman e os seus Uruk Hais de Insengard.
O jogo de 1991 se passava inteiramente dentro dos eventos de As duas Torres em uma combinação entre aventuras de pequenas unidades, batalhas táticas entre exércitos de menor porte e um grande mapa com as grandes batalhas e delimitando os novos limites das fronteiras. Para tanto, o jogador deveria coordenar as ações da Sociedade do Anel e das forças de Theoden para destruir Saruman e enfraquecer Sauron.
Depois da conversão de Lord of the Rigs Vol. I para o Super Nintendo em 94, o mundo ficaria quase 10 anos sem nenhum jogo de videogame baseado na saga. Tudo isso mudaria depois da compra dos direitos sobre a obra de Tolkien pela New Line, que tentaria fazer o que todos julgavam impossível: um filme baseado no Senhor dos Anéis.

O Renascimento do Senhor dos An̩is (2002 Р2005)
Se O Senhor dos Anéis já era um dos livros mais vendidos de todos os tempos nos países de língua inglesa, o sucesso foi ampliado ao chegar às telas pelas mãos de Peter Jackson. Sabendo do potencial da franquia, a Electronic Arts comprou os direitos sobre os três filmes, já a Sierra adquiriu a licença sobre os livros de Tolkien, gerando uma situação um tanto quanto estranha para o mercado. As adaptações da EA não podiam usar partes ou personagens dos livros que não aparecessem no filme, já a Sierra deveria deliberadamente fazer personagens com a aparência bem distinta daquelas representadas na trilogia de Peter Jackson.
O mais engraçado é que a Sierra lançou um jogo sobre a Sociedade do Anel, e a EA decidiu produzir games baseados nas duas sequências, resultando em uma trilogia um tanto incoerente e estranha no mundo dos games.

lotr06 (Foto: lotr06)

LOTR: The Fellowship of the Ring 

O primeiro jogo a nascer neste período foi The Lord of Rings: The Fellowship of The Ring da Sierra em 2002. Totalmente baseado no livro de Tolkien, o jogo é uma mistura entre um adventure e um RPG dividido em quatro atos com três personagens jogáveis: Frodo, Aragorn e Gandalf. Lançado para PC, PS2 (e uma versão bem diferente para Game Boy Advance), o jogo começava com Frodo e a venda de Bolsão e terminava na batalha à beira do rio Anduin, fazendo um bom trabalho de representar a história do livro. Apesar de uma planejada continuação, a Sierra não daria continuidade à série.
Um ano depois, foi a vez da estreia da Electronic Arts e seu The Lord of the Rings: The Two Towers para todas as plataformas da época. O jogo, mais voltado para a ação, foi um dos maiores sucessos de 2002, vendendo como água e estabelecendo em definitivo a franquia no mundo dos games.
Em The Two Towers, os jogadores podem assumir Aragorn, Gimli e Legolas (e Isildur no prólogo) em uma série de missões situadas nos dois primeiros livros da série. O jogo é quase um beat-them-up onde você deve combater hordas de inimigos durante toda a fase, de goblins a uruk-hais, até chegar ao chefão final. Uma das coisas mais interessantes são as cenas entre os diferentes estágios, que foram retiradas dos filmes e a transição para as partes interativas é sempre excelente e de qualidade, de certa maneira ele representa bem como seria “jogar o filme”.

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The Two Towers 

Em 2003, foi novamente a vez da Sierra de se aventurar com a franquia, desta vez com O Hobbit, para todas as plataformas da época. A versão para GBA, um side-scroller de plataforma, foi notoriamente bem recebida pela crítica graças aos seus gráficos coloridos e jogabilidade simpática. A versão de PC e de consoles caseiros tomava a forma de um RPG voltado a audiências mais novas, acompanhando a trajetória de Bilbo e seus companheiros até a montanha solitária.
Em O Hobbit, o pequeno Bolseiro é o único personagem jogável, ainda que Gandalf seja uma presença frequente. Com muitos itens e quests baseadas em buscas de objetos, o jogo não apresenta um grande diferencial, já que uma boa parte do começo do game você busca mantimentos para sua viagem à Montanha Solitária. Apesar de ser possível usar o Um anel para ficar invisível, Bilbo possui poucas habilidades bacanas em termos de gameplay, talvez justamente por essa razão o não tenha sido o sucesso esperado pela produtora.
No mesmo ano, a Sierra também lançou um jogo de estratégia em tempo real chamado War of the Ring. Com um gameplay inspirado claramente em Warcraft 3, o jogo alcançou um sucesso moderado de público, ainda que a crítica o considerasse aquém do material. Com duas campanhas, uma para os Povos Livres e outra para Mordor, o título satisfez os fãs e contava também com um modo multiplayer para jogadores sedentos por mais conteúdo.

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LOTR The Return of the King

Por fim, ainda em 2003 a EA lançou a continuação da sua série de ação, The Return of the King, um jogo que possuía todas as qualidades do seu antecessor aumentadas à última potência, com mais fases, mais personagens e mais modos secretos. Nele você controla praticamente todos os personagens da série em uma aventura intensa recheada de combates para todas as plataformas.
Além da ação frenética e do excelente cooperativo, o game também contava com elementos de RPG como pontos de experiência e níveis, além de alguns dos melhores gráficos da sua geração. The Return of the King foi um grande sucesso de crítica e público e é considerado por muitos o melhor jogo baseado na trilogia de Tolkien.
Em 2004, com os filmes fora do cinema, jogos mais diversificados começaram a surgir. A EA percebeu o sucesso do game de estratégia da Sierra e decidiu lançar a sua própria versão “The Lord of the Rings: The Battle for Middle-earth”, um grande sucesso de crítica e público.
Novamente com várias características similares a Warcraft 3 ele se destacava por seu sistema diferenciado de construções. Ao invés de construir tudo com liberdade você era obrigado a utilizar centros fixos e limitados, tornando-os um recurso escasso e precioso onde era possível criar novas unidades para sua facção. Com duas campanhas extremamente bem feitas e um bom modo multiplayer, Battle for Middle-earth chegou perto de ser o melhor título de estratégia em tempo real baseado nos livros de Tolkien.

Battle for Middle-earth (Foto: Divulgação)

Battle for Middle-earth 

O primeiro grande RPG baseado na saga, The Lord of the Rings: The Third Age, lançado em 2004 para todos os consoles, foi o jogo onde ficou evidente que deter somente a licença dos filmes estava sendo extremamente prejudicial para a Electornic Arts no campo criativo. Os protagonistas inevitavelmente são obrigados a seguir uma história muito similar àquela das telas, ajudando a comitiva e lutando contra o Balrog de Moria ao lado de Gandalf.
No fim, um RPG sem uma boa história não costuma funcionar e foi isso o que aconteceu com The Third Age. Apesar das boas ideias e da jogabilidade funcional, a narrativa não era interessante o suficiente para capturar o público por muito tempo.
Em 2005, a Electronic Arts lançou The Lord of the Rings: Tactics, um game exclusivo para PSP que segue o mesmo estilo dos jogos clássicos de estratégia tática (como Ogrebattle, Final Fantasy: Tactics e similares), utilizando cenários e personagens da trilogia de Tolkien. Graças ao mau desempenho do console nos seus primeiros anos de lançamento, este é um título praticamente desconhecido do grande público.

The Lord of the Rings: Tactics (Foto: Divulgação)

The Lord of the Rings: Tactics

Após o estouro (2006 – 2012)
Com os filmes ficando mais distantes na memória das pessoas, a produção de games baseados na saga também diminuiu um pouco. Ainda sim, neste período a Electronic Arts finalmente conseguiu comprar o direito completo das obras do Tolkien, podendo assim produzir jogos que mostrassem além das cenas filmadas por Peter Jackson.
O primeiro game a sair deste novo acordo foi Batlle for the Middle-earth II, um retorno ao bem sucedido jogo de estratégia para PCs de 2004. Seguindo o bom padrão estabelecido anteriormente, a continuação apresentava mais facções diferentes, mais liberdade de construção, além de muitas novas unidades e heróis. As campanhas também eram mais diversificadas, contando histórias presentes somente nos livros.
Battle for the Middle-Earth II contava com um modo de jogo fantástico chamado Guerra do Anel, no qual o grande mapa da Terra Média é dividido em províncias que devem ser conquistadas e disputadas pelas diferentes facções do jogo. A ação é dividida por turnos e você pode reforçar suas províncias entre batalhas e fazer alianças com as diferentes facções. É o mais próximo que se pode chegar de jogar um game oficial do Senhor dos Anéis em uma configuração semelhante à excelente série Total War.

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Battle for Middle-earth 2 

No ano seguinte, em 2007, a empresa Turbine lançou um MMORPG chamado The Lord of the Rings Online: Shadows of Angmar. No começo, apenas a região norte da Terra Média estava presente no jogo, de Gray Havens até as Misty Mountains, mas eventualmente novas expansões continuaram a aumentar este mundo. Em 2011, o jogo passou a ser gratuito e ganhou um novo sopro de vida com novos participantes. Até hoje, é um dos MMOs mais populares do mercado, com cerca de metade do mapa da Terra Média disponível para ser explorada por seus jogadores.
Em 2009, a Electronic Arts decidiu deixar de lado sua licença, lançando um último jogo baseado na bem sucedida engine de Star Wars Battlefront 2. The Lord of the Rings: Conquest foi desenvolvido para consoles, PC e para Nintendo DS e transporta os jogadores para as grandes batalhas da Terra Média. Com várias classes disponíveis e todo tipo de monstro e herói jogável, dois times de até 16 jogadores se enfrentam em uma arena gigantesca. Apesar do sucesso dos jogos baseados em Star Wars, Conquest não pareceu apropriado para o formato e foi um fracasso de crítica, marcando para sempre o fim da parceria entre a EA e a franquia de Tolkien.

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Aragorn's Quest 
A partir de então, a Warner Bros., que já era detentora da New Line nos cinemas, decidiu assumir a licença para produzir jogos baseados nos livros de Tolkien, e em seu primeiro ano lançou o estranho Aragorn’s Quest para Nintendo Wii, com versões para Nintendo DS, PS2, Ps3 e PSP. Um jogo infantil de aventura, com personagens estilizados e uma jogabilidade super-simplificada, narrando de maneira vaga os eventos dos três livros.
Um segundo jogador pode controlar Gandalf cooperativamente durante todas as fases do jogo. Aragorn’s Quest foi um fracasso de crítica e venda marcou um início desastroso para a nova casa de Tolkien.
No ano seguinte, em 2011, o estúdio Snowblind produziu para a Warner Bros “Lord of the Rings: War in the North”. O jogo que mistura ação com elementos de RPG seguiu a direção oposta do primeiro lançamento da Warner, ele seria o primeiro título baseado em Senhor dos Anéis a ganhar uma censura, sendo proibido para menores.
Em War in the North, vemos uma narrativa baseada em eventos apenas citados levianamente nos livros, a guerra na região norte da Terra-média. Com três protagonistas diferentes, você ajuda os povos livres durante a guerra do anel, participando de combates rápidos e violentos. Com bons gráficos e uma excelente ambientação nas regiões pouco comtempladas na trilogia cinematográfica, é uma pena que o jogo não tenha saído exatamente perfeito. A jogabilidade é um pouco ruim, as fases são extremamente repetitivas, e como um todo o título foi considerado abaixo da média.

Lord of the Rings: War in the North (Foto: Divulgação)

Lord of the Rings: War in the North 

O Futuro
Com o lançamento do filme O Hobbit, vimos uma nova enxurrada de jogos baseados nas obras de Tolkien sendo anunciados. Até o momento, temos Guardians of Middle-earth (trazendo o cenário para o mundo dos DOTAs), Lego The Lord of The Rings e The Hobbit: Kingdons of Middle-earth.
Com jogos de diferentes estilos e em boa quantidade, o mundo dos games representa bem a quantidade de amor devotada a esta série. Com a chegada de uma nova trilogia nos cinemas, só poderemos torcer e esperar que mais jogos de qualidade sejam produzidos, e que ainda nos restem viver muitas aventuras nesta infinita Terra-média.
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