COFRE DE POLEGARES

























Eu sempre gostei de jogos de videogame mais elaborados, que saíssem um pouco do feijão-com-arroz do “andar pra esquerda pulando na cabeça dos inimigos enquanto coleta moedas”. Não tem jeito...
Por esse motivo, desde a minha saudosa época de Super Nintendo eu procurava me agarrar com unhas e dentes a jogos como Alien 3, que me proporcionava muitas idas e vindas para completar diversas missões, que iam desde o “simples” extermínio de uma Alien Rainha até a “emocionante” solda de canos desviando energia do reator principal. Ou será que eu inverti a ordem dos adjetivos?

Spoiler dos brabos: digite OVERGAME no password pra ver essa cena crássica!


Bem, na era (também saudosa) do Playstation One, nada mais natural que jogos de leva-e-traz com alguns quebra-cabeças (como Resident Evil e Silent Hill) também capturassem a minha atenção. Não que faltassem gêneros mais complexos, como os RPGs, mas é que terminar um jogo enorme pagando por hora jogada não era lá uma opção muito válida pra um reles estudante de 15 anos de idade.
Por causa desse pequeno entrave pecuniário (e por não possuir o tão sonhado console em casa), o maior contato que eu tinha com RPGs era por meio de revistas especializadas em games, através de detonados ou artigos.

Eu sempre lia e ouvia falarem muito de jogos como Final Fantasy e Diablo, exemplos bastante reconhecíveis desse gênero, e ficava imaginando como seria um jogo desses. Pelas descrições que eu lia em detonados e seções de carta, as histórias vividas nesses jogos (pelo menos na minha imaginação) pareciam ser ricas em variedade e interação entre o game e o jogador, que literalmente interpretava um personagem enquanto jogava.

Hack' and slash descarado com toques de RPG


Com a aquisição de um PC e, futuramente, um PSone, pude finalmente tirar a minha própria conclusão sobre como eram esses jogos: por melhores, grandiosos, bem-acabados e de vanguarda que fossem, eles passavam longe das expectativas idealizadas por mim com relação a liberdade do jogador e interação entre o mesmo e a história.
De fato, jogos como Final Fantasy, Breath of Fire ou Star Ocean pareciam mais como uma novela interativa do que com um jogo que me permitiria fazer o que eu quisesse, na hora que eu quisesse, sendo bom, mal, ou neutro e arcando com as conseqüências disso.
Por mais fantástico que Final Fantasy 10 fosse (e ainda o é. Se tem dúvida sobre minha opinião ter mudado, leia o Review Supremo que eu escrevi a respeito desse jogo e veja por si mesmo), não havia ninguém nem remotamente parecido comigo no comando da situação. Apenas o Tidus e sua voz irritante colhendo os louros pelas horas de XP que EU tinha proporcionado ganhar.

Sério que você considera esse capítulo como algo canônico na série?


Com a chegada do PS3, eu me senti praticamente um órfão de jogos desse gênero. Uma verdadeira sentença de morte para mim, que sempre fui aficionado por complicação, enigmas e jeitos morosos e menos diretos de se alcançar um objetivo em um game.
Final Fantasy já dava pistas de que não era a mesma desde seu décimo segundo capítulo, com o décimo terceiro surgindo apenas para confirmar as minhas suspeitas. Breath of Fire e Persona haviam ficado estacionados na geração passada, e a melhor opção que eu encontrei era um hack’n slash travestido de RPG chamado Demon’s Souls. A situação não parecia nada promissora para um jogador de RPGs incorrigível...

Mais um hack'n slash descarado se fazendo de RPG...


Com a nova geração veio também o novo hábito: nada de piratas, apenas jogos originais. E, diante do panorama de ter que desembolsar três dígitos para adquirir um novo jogo, pagar caro por algo que eu não gostei era carta fora do baralho. O resultado foi um dos melhores negócios que eu já realizei em minha carreira gamer: troquei o decepcionante Demon’s Souls por um tal de “RPG de mundo pós-apocalíptico” chamado Fallout. Eu sei, já contei essa história em pelo menos outros três momentos aqui no blog. Mas é confiando na pouca memória dos também poucos que acompanham meu site que venho contar ela de novo, tamanha a satisfação com o resultado obtido na transação.

"Tirando as fadas, magias e outras frescuras". Sério, nunca vou cansar dessa piada.


A despeito de tudo que você ouvir sobre o game em questão, seja por ranço de jogadores mais experientes na série, seja pela falta de visão de jogadores que não compreendem a escala com a qual estão lidando, uma coisa é impossível de negar: FALLOUT 3 É UM JOGO EXCELENTE.
Claro, seria uma baita hipocrisia da minha parte (e desonestidade com meus leitores, recurso do qual só me utilizo para gerar efeito cômico) não reconhecer algumas falhas que esse excelente título indiscutivelmente possui (falta de impacto nas suas escolhas; sistema simplificado; jogabilidade mais voltada à ação; dificuldade reduzida). Mas a qualidade deste terceiro jogo da série (que agora é embalada pelos braços da Bethesda Softworks, não mais pela Interplay) é algo que nem mesmo os mais desgostosos fãs da série clássica podem se recusar a aceitar.

Como a atual geração de jogos (se eu disser consoles vão me acusar de ser “consolista”, pois estaria excluindo a plataforma-berço na qual a série surgiu) e a E3 2015 não me deixam esquecer, a surpresa mais bombástica do evento foi o anúncio do quarto jogo da série, Fallout 4.



Com um visual fantástico (apesar do mimimi dos idiotas sobre a bunda do protagonista do game não ser detalhada da forma com a qual eles sonharam –sarcasmo OFF), uma história que nos dará um relance de como aconteceu a hecatombe nuclear e algumas opções de customização simplesmente estuprantes, Fallout 4 nem foi lançado e já é um forte candidato a melhor jogo de 2015. E olha que num ano onde tivemos jogos como Dying Light, The Witcher 3, Alien Isolation, Infamous Second Son e Dragon Age Inquisition... para tudo, Shadow Geisel da Casa do Cervo Sombrio das Terras do Norte: você colocou nesse bolo jogos que foram lançados em 2013 e 2014. Tá ficando maluco? Bem, eu disse que a lista era de melhores jogos de 2015. Só esqueci de mencionar que o “2015” se refere aos jogos que EU joguei em 2015, não que foram lançados neste ano. Eu sei, eu sou um saco às vezes. Mas a sua obrigação é sempre lembrar a máxima vigente na Carta Magna da Shadowlândia: MEU BLOG, MINHAS REGRAS.

Digressões à parte, Fallout 4 não foi o único jogo “interessante” que foi anunciado na conferência da Bethesda esse ano. O outro pequeno notável foi um tal de Fallout Shelter, do qual falarei um pouco no texto que se segue.




HISTÓRIA E RAZÃO DE SER

Meu Vault é o 138. Sacou? 13 de agosto...


Imagine que você é um dos felizardos jornalistas a ocupar um assento do opulento salão de eventos no qual aconteceu a conferência da Bethesda. Depois do anúncio de jogos como Doom, Dishonored 2 e o próprio Fallout 4, o apresentador Todd Howard revela um projeto inédito da empresa: Fallout Shelter, um jogo para celulares que surgiu da vontade dos desenvolvedores poderem jogar um Fallout na telinha de seus portáteis. E ainda tem mais: o jogo é gratuito e estará disponível ainda na noite da conferência.
Não sei você, mas como fã da série eu poria uma dúzia de ovos de ouro na cadeira de tanta felicidade.

Bem, da motivação eu já falei (se você é meio lento pra pegar as coisas no ar, a motivação foi a sanha dos criadores de jogar Fallout no celular). Mas do que se trata a história de Fallout Shelter?
Fica difícil falar do plot por trás do jogo sem revisar alguns pontos básicos da série principal: o game se passa em um futuro pós-apocalíptico no qual o mundo é um imenso deserto radioativo lotado de criaturas bizarras e mortais a sua espera. Pra sua sorte, foram construídos Vaults (cofres) em regiões montanhosas que protegem alguns cidadãos mais aba$tado$ da civilização dos perigos desse novo mundo. Confinar pessoas a alguns metros da superfície, em total clausura, não parece ser uma das tarefas mais fáceis de se administrar. É aí que entra o Overseer, uma espécie de diretor do abrigo ,responsável por todos os aspectos que vão proporcionar uma vida saudável e próspera aos habitantes do local.

Ei você aí: nem pense que vai entrar no meu Vault usando um mullet ridículo desses!


Sobre o enredo não tenho muito o que dizer, visto que ele não possui personagens principais ou protagonistas. É apenas uma justificativa para o gameplay do jogo em si. Mas posso adiantar que, em minha opinião, a Bethesda “desperdiçou” uma excelente premissa para um possível Fallout 5, ou talvez até o próprio 4 mesmo, se levarmos em conta as possibilidades de construção e customização vistas no trailer. Construir e tocar adiante seu próprio Vault é uma ideia que, fácil fácil, sustentaria um jogo da vertente principal da franquia.



SISTEMA E JOGABILIDADE

Não adianta planejar. Sua primeira jogada com certeza contará com escolhas desastrosas...


Confesso que fiquei abismado com a pontualidade quase britânica da Bethesda com relação ao lançamento do game para Android (visto que ele tinha sido lançado em junho apenas para IOS): no dia 13 de agosto de 2015 o game estava lá, bonitinho e mais de graça que aquele seu colega impertinente com baixa intolerância a álcool.

Passados esses comentários imprescindíveis para o continuar do texto, como funciona o jogo? Se você jogou games como Farmville, XCOM ou The Sims não vai correr o risco de bater a própria moleira na parede em uma inesperada reação de espanto. Fallout Shelter é um jogo de administração de recursos. Você é capaz de construir cômodos em seu abrigo, sendo que cômodos adjacentes te garantem uma bonificação nos materiais e recursos gerados.

No tocante aos moradores, é possível posicioná-los em qualquer um dos cômodos criados para executarem uma das três funções necessárias à sobrevivência do seu Shelter (energia elétrica, água e comida). As perícias desses moradores são determinadas pela palavra S.P.E.C.I.A.L, que assim como na série principal é uma sigla que deriva dos atributos Strenght (força), Perception (percepção), Endurance (resistência), Charisma (sério que precisa traduzir isso?), Intelligence (idem), Agility (...) e Luck (sorte, uma mistura de todas as características juntas). Esse sistema é a base de todos os jogos da série, desde o primeiro.

Tirem as crianças da sala que a putaria tá rolando solta


Além de mandar os coitados arregaçarem as mangas por você, também é de sua responsabilidade mantê-los felizes, satisfeitos com seu trabalho e ainda juntá-los no mesmo cômodo para fins de aumento do contingente do seu abrigo, se é que você me entende.

A interação não para por aí: é possível equipar armas (mal posso esperar pela Alien Blaster...), roupas e escalar qualquer membro do seu Vault para explorações no deserto radioativo ou escalar patrulheiros para proteger a entrada do lugar da invasão de raiders, Deathclaws e toda a sorte de criatura bizarra que com certeza faz parte do mundo de Fallout. Ferimentos e envenenamento por radiação inevitavelmente irão acontecer (não seria um post sobre Fallout se não tivesse esse tipo de coisa), mas nada que não possa ser remediado com o uso de um Steampack ou Radaway. Até um inédito recurso de ressuscitar um morador morto em combate foi colocado no sistema do jogo. Ao custo de mais de 100 tampinhas de garrafa, é claro...

Como o Vault da vida real é sem graça...


Falando em custo, é claro que num jogo gratuito para celulares o esperado era aquele velho truque das microtransações: o jogo em si é de graça, mas certos privilégios custariam dinheiro de um mundo que ainda não foi devastado por explosões nucleares, certo? É aí que a Bethesda joga um balde de água irradiada fria em cima dos mais pessimistas: tudo que você faz no jogo depende das barrinhas de progressão de tempo e das suas escolhas estratégicas. É possível até usar um comando que acelera a produção de um recurso, com uma porcentagem de desastre a ser considerada. Mas tudo que você consegue no jogo tem que ser adquirido no decorrer natural das coisas. Claro, é possível comprar lancheiras com dinheiro de verdade para ganhar cartas. Cada carta te dá um prêmio aleatório (com o diferencial de que pagando, ao menos um dos itens será de boa qualidade).

Será que tem a Moira Brown?


O resto é aquilo que você já viu em milhares de outros jogos de gerenciamento de recursos: novas instalações vão sendo desbloqueadas com o passar do tempo. Novas metas alcançadas (nada de deixar as metas em aberto, viu?) abrem novos itens. Mais ou menos moradores virão ao seu abrigo, de acordo com suas escolhas, e a vidinha tediosa e distópica segue em frente.

Pra finalizar, como o tópico é sobre jogabilidade, não poderia deixar de salientar que achei um pouco ruim a precisão dos comandos de toque do jogo (apenas na parte de arrastar os moradores para os cômodos). Não sei se é o reflexo da capacidade de processamento mediana do meu aparelho (um Moto G), mas nos primeiros minutos de jogo isso me incomodou bastante. Com a prática as coisas ficam melhores e você nem sente, e dificilmente vai se pegar xingando o jogo por você ter feito uma coisa e ter acontecido outra.




GRÁFICOS

A guerra pode até não mudar, mas o ângulo da câmera muda


Visualmente falando, Fallout Shelter é bastante competente nesse quesito. Claro que ele passa longe de ser um exemplo de “como jogos de celular estão ficando mais próximos de jogos de console e PC”, mas não há nada com o que se preocupar aqui.

Navegar pelo Fallout Shelter é como jogar uma versão animada dos Perks encontrados nos jogos principais. As animações são muito bem feitas e variadas. Os personagens executam diversos movimentos e interagem com vários objetos, dependendo do local onde ele se encontra. Dá até pra clicar em um morador e acompanhar seus passos nos diversos cômodos do Vault. A variedade de expressões é boa, e as situações são enriquecidas com diálogos acima das cabeças dos personagens. De fato, é hilário colocar dois Vault Dwellers pra acasalar e ler diálogos do tipo “sinto borboletas no estômago quando estou perto de você” ao mesmo tempo em que o morador exibe a maior cara de infelicidade do mundo por causa da sua falta de tato em administrar recursos.

Melhor que muitas escolas do mundo não devastado...


Durante as tarefas que executamos, pode acontecer um leve delay na animação (o jogo tem visão lateral, mas é feito com polígonos, contando com uma leve inclinação do ângulo de câmera dependendo da área que você selecionou). Mais uma vez, não sei se essa é uma característica do jogo ou falta de potência do meu celular, então não posso bater o martelo e apontar isso como sendo uma falha.

Não sei se isso se encaixa no tópico, mas ao compartilharmos uma foto no Facebook o jogo simplesmente fecha e começa a carregar de novo. Isso sim, eu posso apontar como uma óbvia falha, que bem podia ser corrigida em um futuro update por parte dos desenvolvedores.
Antes que eu me esqueça também, há uma falha conceitual (eu acho) no visual do game: até agora não vi nenhum morador do Vault usando um Pipboy-3000. Não sei como isso funcionará no decorrer do jogo, mas se realmente esqueceram de colocar isso no visual dos personagens...



SOM

Galaxy News bombando (e atraindo raiders) no deserto nuclear


Tanto os sons de ações quanto a trilha sonora do game são bastante fiéis ao que já conhecemos dos três primeiros Fallouts. É bem legal iniciar o aplicativo e ver aqueles slides do GOAT subindo na nossa telinha, com aquele som característico que tanto nos assombra nos momentos de load do terceiro jogo.

Vale lembrar que cada ambiente do Vault possui seu som próprio, que só será ouvido caso você dê um zoom com dois cliques na tela.
De resto, não tenho críticas negativas a fazer sobre esse aspecto do game.



CONCLUSÃO

Trabalho duro é trabalho feliz? Mas que porra de conclusão é essa?


Não dá pra tirar uma conclusão sobre um jogo que eu comecei a jogar há dois dias atrás. A minha opinião como fã da série é bastante óbvia: se você puder, baixe Fallout Shelter o quanto antes. Mesmo que você, assim como eu e muitos outros na internet, ache o começo devagar e moroso, o máximo que você vai perder são alguns megas de armazenamento do seu aparelho. O que você puder tirar de bom dessa experiência já terá valido a pena, dado seu custo-benefício.

Como eu já tinha adiantado, alguns veículos especializados deram notas que variaram do mediano ao ruim. A IGN deu nota 8,5 ao jogo, mas como o que a IGN diz não se escreve, eu prefiro fazer a clássica pergunta: FALLOUT SHELTER VALEU A ESPERA (PARA OS USUÁRIOS DE ANDROID)?

A resposta é um sonoro SIM.

Acredito que o game em questão esteja na mesma vibe que projetos como Final Fantasy 15, Final Fantasy 7 Remake e Resident Evil 2 Remake. Apostar em projetos que visam claramente agradar aos jogadores, depois de tantas mancadas que algumas dessas empresas vêm dando, é algo no mínimo esperado pelo fãs. E nesse aspecto, a Bethesda vem dando uma bola dentro atrás da outra quando o assunto é fazer um jogo do jeito que ela sabe que os fãs esperam que o jogo seja feito. E de graça, tudo isso soa melhor ainda para a reputação da empresa.

E é isso pessoal. Espero que tenham gostado do texto. Podem ter certeza que esses três angustiantes meses de espera pelo Fallout 4 serão recheados de textos e vídeos abordando essa série fantástica que tem realizado aquele meu velho sonho de poder interpretar eu mesmo em um jogo de RPG de verdade.


Au Revoir!

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